segunda-feira, março 19, 2007

Xarope de Poeta!

21h30m... Chego sem surpresa à hora marcada mais cinco! Subo as escadas de caracol esbafurido, mas sem necessidade. Faço o que me compete e tudo está pronto. Dá-se início ao xarope! O poeta de idade generosa é o único que está na sala. A conta-gotas e poucas vão chegando os ouvintes. Não são mais do que uma dúzia! Quatro são fotógrafos e três estão ao serviço, como eu! Dos restantes, dos verdadeiros ouvintes, dois estão, literalmente, a dormir acordando de um salto com a tosse do poeta. Os restantes fingem um interesse imenso e soltam esboços falsos de gargalhadas de circunstância. O discurso é vazio e perde-se o fio à meada repetidamente: " Do que é que estávamos a falar?", "Opah, parece que agora me perdi." - O entrevistador lá o relembra mas não serve de muito. Até as falsas gargalhadas são agora inaudíveis e as caras estão fechadas. O senhor é simpático, mas o seu discurso é enfadonho. O xarope é dos fortes! Para o homem não há remédio que o safe. Só a leitura breve de alguns poemas dá alguma serenidade ao momento. Poemas esses que o inchado poeta se apressava a explicar e dissecar, verso a verso, provocando a perda imediata de qualquer hipotética magia que pudessem ter. Poeta simpático e ao que diz bom poeta, mas a idade já não perdoa e a memória hoje não veio. Entre constatações que pareciam tiradas a ferros e porradas na mesa dignas de acordar qualquer um, mesmo que em coma, lá se foram abrindo as caras com a perspectiva do fim no horizonte. Todos aguentaram estóicos até ao final e a merecida recompensa chegava finalmente... bolos secos com três, quinze dias, sumos e café aguado. Bebo dois!