São 3 da manhã. Meto as chaves à porta de casa e sou surpreendido por dois meliantes com o intuito de incorrer num furto agravado. Dou mais ou menos conta do assunto. Entre gritos de indignação e palavrões bem assustadores, algumas esquivas milimétricas e a preciosa ajuda de um destemido fogareiro, afasto os delinquentes. Grandes pelintras. O que eles queriam era a chave do Twingo, os pequenos criminosos. Minutos depois, já no conforto e segurança do meu lar, sou surpreendido com um toque de campaínha frenético. Ai tu queres ver! Era o vizinho da frente. O delator: - Chamei a polícia, anda, desce daí. Vamos à esquadra apresentar queixa dos gatunos. - Ah! Obrigadinho deixe lá isso, eles... Não deixo nada, anda lá. Tens de apresentar queixa! - F@#$%-se qu'é chato! - Lá fui, contrariado, apresentar queixa dos delinquentes. Tive de os identificar - numa sala, virados de costas, apontei-lhes o meu dedo acusativo. Só me queria ir embora dali. E fui, passadas algumas duas horas. Muito depois dos acusados que, ao que parece, tinham compromissos importantes. Passaram-se cinco anos, nos quais faltei a todas as diligências a que devia ter ido. Queria lá saber dos meliantes. Não me incomodem! Já bastou o próprio dia da ocorrência e todos os que se seguiram em que encontrava o vizinho delator: - Olha lá fui chamado para aquilo! Estragaste-me as férias. Grande trinta e um que me arranjaste. - Eu?! - Sempre a queixar-se, o chato de galochas. Haja paciência para as lamúrias do delator. Notificação para comparecer em tribunal, cinco anos depois! Desta vez não pude fugir mais, sob risco de detenção e multas agravadas. Sozinho, sem qualquer tipo de apoio jurídico ou aconselhamento legal, ponho-me a caminho do Campus da Justiça. A imponência do nome obriga-me a endireitar as costas sempre que o oiço ou pronuncio. Um aglomerado de tribunais para todos os gostos. Edifícios de A a K divididos e sudivididos em incontáveis secções e repartições, só mesmo superadas pela quantidade de pequenos criminosos. Parecia uma concentração da classe dos gatunos, os estereótipos estavam lá todos. Tudo à espera do juízo da Sr. Justiça. E eu também. Uma hora na fila para entrar, descobrir a sala de audiência - dez minutos - mais vinte e cinco á espera de ser chamado. A minha sorte é que comigo, também à espera, estava um dos larápios. Simpático, não? Tirem-me deste filme! Finalmente uma jovem simpática canta o meu nome. É o início do fim. Entro na sala e os semblantes destes profissionais da justiça assustam-me mais do que o dos ratoneiros da sala de espera. Tenebroso. Lá jurei dizer a verdade. E disse, teve mesmo de ser...
quinta-feira, fevereiro 25, 2010
quarta-feira, fevereiro 17, 2010
Enlightenment...
Já não sou um. Deixei de ser só eu, há muito. Sou eu e tu. E é nesse momento que deixo de existir, como era. Existo contigo, existimos. É enleado e labiríntico o enredo que insisto em manter. Bem sei. Sempre soube. Mas agora, no emaranhado que crio, somos dois. E não posso. Não devo. E não quero. Assim, corto fora o que não nos serve, os impulsos de ser sozinho. Descomplico. Censuro os ímpetos de uma outra forma de estar. Organizo-me, concentro-me, cresço...
terça-feira, fevereiro 09, 2010
...
Sentir tudo de todas as maneiras. Viver tudo de todos os lados. Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo. Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos. Num só momento difuso, profuso, completo, longínquo... Sentir tudo de todas as maneiras. Ter todas as opiniões. Ser sincero contradizendo-se a cada minuto. Desagradar a si próprio pela plena liberalidade de espírito.
Álvaro de Campos
sábado, fevereiro 06, 2010
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